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Quando ouvir faz toda diferença

Nós, adultos, ouvimos e falamos com frequência, que as “crianças de hoje nascem sabendo”, “que são muito mais espertas que as das gerações anteriores”, “que aprendem rapidamente”. Tais observações e comentários que resultam de nossas vivências quando em interação com elas, como afetam, como interferem no nosso cotidiano com elas? Se acreditamos nessas descrições, que mudanças estas têm gerado na nossa maneira de pensar, de estar, de conversar com nossas crianças?
Se dizemos que são mais inteligentes, participantes e ativas, significa que nos sentimos mais seguros e à vontade de abrir, de ampliar conversas? Significa que acolhemos suas perguntas, que nos dispomos a satisfazer sua curiosidade? Em outras palavras, estamos mais atentos e interessados em ouvi-las?
Também costumamos dizer que as crianças de hoje têm muitos privilégios e direitos: escolhem seus alimentos, suas roupas, seus brinquedos, os enfeites e o cardápio de seus aniversários, os presentes dos seus amigos, seus passeios. Quer dizer, então, que elas são muito mais ouvidas, que seus desejos e demandas são muito mais respeitados e atendidos por nós? Será mesmo?
Quando os conteúdos das nossas conversas passeiam por estes temas, podemos, sim, afirmar que suas vozes são ouvidas, que conferimos a elas o lugar de protagonistas de escolhas e decisões.
E quando estão vivenciando com suas famílias situações novas, difíceis, dolorosas, conflitantes, como nós, adultos, costumamos agir?
Como nos saímos quando as conversas têm como temas o nascimento dos bebês, a curiosidade sexual, os desentendimentos entre papai e mamãe, a morte de um animal de estimação ou mesmo de algum amigo ou familiar?
Mais difíceis ainda são as conversas que abordam o fato do papai e da mamãe agora viverem em casas separadas, dos filhos terem duas casas para morar, de conviverem com novos integrantes da família, sejam eles os parceiros de seus pais, os filhos desses parceiros, os filhos nascidos dessas novas uniões.
Cá pra nós, como as crianças perguntam! E como nos sentimos perdidos e confusos diante de tantas perguntas embaraçosas e repetitivas!

Sem dúvida, a separação dos pais é uma das situações mais dramáticas vividas pelas famílias. Porém, contamos com o divórcio colaborativo, um jeito das famílias o viverem acompanhadas e apoiadas por uma equipe multiprofissional, atenta às necessidades específicas de cada um de seus membros, com foco na manutenção das relações familiares e no uso dos diálogos como a grande ferramenta geradora de conversas respeitosas e eficientes.
Um dos profissionais que compõem a equipe é o coach dos filhos[1], profissional da área de saúde mental, com formação em terapia familiar e de casal, com ampla experiência no trato com crianças e adolescentes.
O coach dos filhos participa da equipe, a convite dos advogados colaborativos e/ou dos coaches colaborativos (cada membro do casal conta com o acompanhamento desses dois profissionais). Faz contato com cada um dos filhos, ouvindo-os nas suas demandas, interesses e peculiaridades; é porta-voz destas junto aos pais e demais profissionais.
O processo do divórcio colaborativo inclui e cuida de cada um dos envolvidos nele, com atenção especial às reações de cada filho, promovendo a preservação do casal parental e de suas funções no desenvolvimento de seus filhos.
Sendo assim, nessa situação complexa e emocionalmente desgastante, pais e filhos poderão expressar seus temores, anseios e incertezas, poderão encontrar maneiras de falarem de si, de construírem conversas respeitosas e produtivas, de renovarem sua fé e esperança, conciliando-se com o futuro.
Fazer das dores pessoais, combustível para a transformação, só será possível quando as vozes de cada um se fizerem ouvidas e legitimadas, inclusive as das crianças e adolescentes.
Eliana Pereira Barreto Lino Chaves
Psicóloga, terapeuta de adultos, casal e família
Mediadora e Coach do divórcio colaborativo
[1] Nota Iane Ruggiero: Na literatura internacional, esse profissional é chamado de especialista infantil. Em nosso Grupo de Estudos de Práticas Colaborativas de São Paulo, convencionamos chamá-lo de coach dos filhos. Dos filhos porque nem sempre esses filhos são crianças; e coach, em lugar de especialista, porque temos o objetivo de esclarecer que esse profissional não é alguém que vai impor um “conhecimento superior” à família, mas sim é alguém que constrói algo junto com os filhos e a família. Vale também reiterar que o termo coach em práticas colaborativas é utilizado de forma genérica, na ausência de uma melhor tradução. Ou seja, não se trata necessariamente de alguém formado em coaching (embora alguns o sejam), mas sim de alguém com formação na área da saúde emocional (psicólogos, terapeutas familiares etc.).


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