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O que você quer?

Certa vez advoguei para um rapaz em um divórcio. Era um grande profissional, bastante racional. Tomar decisões importantes fazia parte da sua profissão. Na primeira reunião, ofereci a ele o modelo das Práticas Colaborativas, com a equipe completa: dois advogados colaborativos, dois coaches e um financeiro. Eles não tinham filhos, então não precisaríamos da coach dos filhos (que eu gosto de chamar de advogada dos filhos… rs). O custo seria quase o mesmo com a equipe e sem a equipe. Na prática, minhas horas se reduziriam, pois as questões não jurídicas seriam tratadas pelos outros dois profissionais e eu gastaria menos tempo por confiar no outro advogado.

Mas o custo não importava muito. Era um homem inteligente, conhecia bem de finanças e não tinha questões emocionais envolvidas. Era só dividir o patrimônio e definir uma pensão com prazo para acabar. Tudo muito objetivo. Ficar incluindo mais gente iria atrasar o processo e ele queria tudo resolvido em três meses. Seguimos então eu, ele, o advogado dela e ela na negociação. O advogado foi um feliz encontro. Profissional competente e equilibrado que um dia eu ainda levo para as Práticas Colaborativas… rs. Passamos os três primeiros meses e, apesar da boa vontade minha e do colega colaborativo-to-be, não tínhamos um acordo ainda. Já havíamos construído mais de cinco grandes cenários possíveis, mais de 100, se pensarmos em todas as pequenas variáveis que levantamos como hipóteses. Eram cálculos e mais cálculos, hipóteses e mais hipóteses. Até que um dia o chamei para uma reunião em meu escritório: “Fulano, o que você quer? Você quer ficar no apartamento, quer que ela fique, quer vender para sua irmã, quer alugar?” Ele, que era sempre tão assertivo, gaguejou: “Ah, eu quero saber por quanto ela aceita vender.” Refiz a pergunta: “Não, Fulano, O QUE VOCÊ QUER? Onde você se vê morando? Você gosta desse apartamento? Você quer ir morar fora?”. Ele não sabia. Demorou, mas disse com todas as letras que não sabia o que queria. Voltei a ele, então, com a sugestão da coach. Voltei a explicar que não era terapia, que ele não precisava falar dos porquês da separação, nem de como estava se sentindo, se não quisesse. Mas que acreditava que ela poderia ajudar a ele muito melhor do que eu a escolher uma opção de acordo que fosse o que ELE queria. Sabe, ele não acatou a minha sugestão. Acho que não queria dar o braço a torcer depois dos três meses sem sucesso (eu tinha dito que ia demorar o mesmo tempo ou mais na negociação!). Enfim, mais três meses e fizemos um acordo do jeito que deu, com o que ele achou que era “mais vantajoso”. Ficou com o apartamento.

Esses dias encontrei com ele, que me contou que foi embora para NY, está amando e o apartamento está para vender. Demos risada…


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